terça-feira, 4 de outubro de 2011

Obesidade Infantil: Culpa das gorduras ou da família?


Uma pesquisa feita pelo cientista Daniels e colaboradores (2005) descreveu que o aumento exacerbado de qualquer substância, produto ou alimento pode provocar a formação de uma reserva. Este fato também é possível de acontecer no corpo humano, e assim, contribuir para o desenvolvimento da obesidade. Alguns estudos confirmam esta hipótese, como o de Goran e colaboradores (1998) mostrando que o excesso de peso está atribuído a um inapropriado e excessivo consumo de alimentos, e também, o trabalho de Zanolli e colaboradores (1989) que relacionou o desenvolvimento da obesidade com a baixa quantidade de exercícios realizados.
Por conta deste aspecto, um grupo de investigadores buscou desvendar, de modo mais fidedigno, se a ingestão de alimentos calóricos poderia induzir o ganho de peso em crianças, independentemente de outros fatores. Neste sentido, Thompson e colaboradores (2004) acompanharam 101 crianças de 8 a19 anos, buscando observar a relação entre a ingestão de alimentos em lanchonetes e restaurantes e a modificação do Índice de Massa Corporal (peso(kg) / estatura(cm)2), da infância até a adolescência. Esses autores concluíram que as meninas que comiam fast foods (alimentos ricos em gorduras saturadas, gorduras trans e carboidratos simples) duas ou mais vezes por semana, apresentaram maior elevação do IMC ao longo do tempo.
O relato anterior deve ser encarado com preocupação, pois St-Onge e colaboradores (2003) descrevem que houve um aumento exacerbado do consumo de fast foods entre 1977 e 1996, além de mudanças nos hábitos alimentares influenciados pelos estabelecimentos que comercializam estes alimentos. Nicklas e colaboradores (2004) desconfiam que o crescimento no consumo de fast-foods poderia explicar em parte, o crescimento da obesidade infantil.
Deve ser destacado, que a composição da grande maioria dos fast-foods e dos alimentos voltados ao público infanto-juvenil não é composto de gorduras, como muitos acreditam, mas basicamente de um tipo de nutriente que é muito perigoso para o desenvolvimento da obesidade, representado pelo carboidrato simples de alto índice glicêmico (velocidade de entrada na corrente sanguínea). Isso pôde ser evidenciado em um estudo conduzido por Troiano e colaboradores (2000), onde verificaram que tanto o consumo de gorduras saturadas quanto o de colesterol exibiram reduções consideráveis de 1970 até 2004. Entretanto, mesmo com a redução desses nutrientes (gordura e colesterol) observou-se uma discreta elevação mundial da obesidade infantil no mesmo período. Mas houve um aumento considerável no consumo de alimentos ricos em carboidratos simples e com alto índice glicêmico. Os principais representantes desse grupo de alimentos são os refrigerantes, pães, bolos, biscoitos recheados, balas e doces em geral, onde os refrigerantes (bebidas carboidratadas) merecem destaque, por serem os mais consumidos especialmente por crianças.
Outro fator muito importante a respeito do desenvolvimento da obesidade é que a atitude familiar pode influenciar e até mesmo determinar os hábitos alimentares das crianças, por isso, os pais precisam ter uma grande atenção e responsabilidade sobre os alimentos que os filhos estão tendo acesso. Bell e colaboradores (2004) demonstraram uma atenção especial para este fato, observando o comportamento alimentar das crianças no ambiente escolar, através do tipo dos alimentos levados nas merendeiras. Foi relatado que havia um consumo muito grande de alimentos não saudáveis, em que as tortas, batatas-fritas, refrigerantes e sucos industrializados foram os principais representantes.
A partir deste estudo pode ser concluído, que atualmente os pais parecem não estarem preparados para educar nutricionalmente seus filhos, sendo os primeiros a contribuir para um péssimo hábito alimentar. Como exemplo, destaca-se os alimentos oferecidos como merenda escolar, descritos no estudo anterior. Esses fatos evidenciam, que a educação alimentar e a inserção do estilo de vida saudável realizada dentro da família aparentam ser uma das principais ferramentas de combate à obesidade e isto é reforçado na pesquisa realizada por Campbell e colaboradores (2006).
Em conclusão, observa-se que os maiores influenciadores da obesidade infantil no aspecto nutricional são os carboidratos simples e de alto índice glicêmico, Já no que diz respeito ao âmbito familiar, destacam-se a falta de orientação dos pais sobre os alimentos que devem ser consumidos e os hábitos não-sedentários que devem ser praticados pelos filhos.

Anderson Luiz B. da Silveira
PhD Student

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